Como entender os estilos literários da Bíblia? Parte 2
Por que entender a linguagem bíblica é essencial para confiar nas Escrituras.
A Bíblia está cheia de mitos?
Você já ouviu alguém dizer que a Bíblia é repleta de fábulas? Histórias como a serpente falante no Éden ou a jumenta de Balaão seriam, para alguns, apenas símbolos ou figuras literárias.
Mas e se estivermos descartando algo essencial da nossa fé ao pensar assim?
Afinal, se não houve uma queda real, de que precisamos ser salvos? Se Adão e Eva não existiram, por que Jesus seria chamado de o segundo Adão?
Neste artigo, vamos dar um passo além na análise das formas literárias da Bíblia. Veremos como identificar a personificação e a narrativa histórica — e por que essa distinção vai muito além da literatura: trata-se de confiar ou não na veracidade das Escrituras.
Gêneros literários e a base bíblica
A Bíblia é composta por diversos gêneros: poesia, parábola, narrativa, profecia, apocalipse... Compreender esses estilos é fundamental para uma leitura mais clara e fiel do texto sagrado.
Hoje vamos focar em dois deles:
Personificação – Recurso poético que atribui características humanas a objetos ou conceitos abstratos.
Narrativa histórica – Relato de eventos reais, situados em tempo e espaço, com pessoas e acontecimentos concretos.
Veja o início do capítulo 2 de Lucas:
“Naqueles dias foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se...”
(Lucas 2:1 – NAA)
Note os elementos históricos: César Augusto, Quirino, Nazaré, Belém, a linhagem de Davi. Isso não é alegoria — é história.
Mas nem sempre essa distinção é simples. Às vezes, um texto traz elementos poéticos dentro de uma narrativa histórica. Como, então, saber quando algo é literal ou simbólico?
Dois exemplos controversos
Vamos analisar dois relatos que costumam gerar debate:
- A jumenta de Balaão (Números 22)
- A serpente no Éden (Gênesis 3)
Em ambos os casos, os animais falam. Isso leva alguns a considerarem os textos como fábulas, ou a interpretá-los como personificações — como em Provérbios, onde a sabedoria "clama nas ruas".
Mas o ponto essencial é este: esses relatos estão inseridos em narrativas históricas. Há tempo, lugar, personagens reais e conexão direta com o enredo maior da Bíblia.
A dúvida, portanto, não é apenas literária — é teológica. Rejeitar a historicidade desses episódios é enfraquecer as bases da fé cristã.
Karl Barth, ao ser perguntado se a serpente realmente falou, respondeu:
“O que importa é o que a serpente disse.”
Mas essa resposta escapa da verdadeira questão: aconteceu ou não?
E se não aconteceu, o que mais na Bíblia poderia ser descartado?
O peso da dúvida
Quando um texto claramente histórico traz elementos incomuns, quem deve justificar sua leitura? O peso da prova recai sobre quem duvida, e não sobre quem crê.
A rejeição à queda por causa de uma serpente falante, por exemplo, muitas vezes esconde algo mais profundo: uma resistência à ação sobrenatural de Deus.
- Mas se não houve um Adão real, então não houve queda.
- Se não houve queda, não há pecado.
- E se não há pecado, por que Cristo morreu?
A Bíblia não foi escrita para nos entreter com boas histórias. Ela revela a história real da redenção, com eventos que aconteceram no tempo e no espaço — e com um Salvador que realmente veio ao mundo.
Conclusão: tudo começa em Gênesis
A forma como lemos Gênesis molda a forma como entendemos todo o evangelho.
Se o início for mito, o fim é fantasia.
Mas se tudo for verdade — do jardim ao túmulo vazio — então temos uma fé que se apoia em fatos concretos, em história real.
A Escritura é histórica porque a nossa salvação é histórica.
E isso muda tudo.