Só porque algo está na Bíblia... não significa que Deus aprova

Quantas vezes você já ouviu alguém dizer: “Ah, mas tá na Bíblia!”
Essa frase costuma surgir em debates sobre fé, comportamento ou até política. Mas será que tudo o que está na Bíblia é um modelo a ser seguido? A resposta exige discernimento.

Está na Bíblia como história... ou como ensino?

Essa é a pergunta-chave. A Bíblia contém dois tipos principais de texto:

Narrativas históricas – que contam o que aconteceu.
Textos didáticos – que ensinam o que devemos crer e praticar.
Confundir esses dois gêneros pode levar a interpretações perigosas. Nem tudo o que é registrado nas Escrituras tem a intenção de ser replicado.

Narrativas descrevem, mas não necessariamente prescrevem

Um bom exemplo é a história do sacrifício de Isaque. Há quem conclua: “Tá vendo? Deus não sabia o que Abraão faria.”
Mas isso ignora uma verdade essencial: Deus é onisciente.
A narrativa não revela uma incerteza de Deus, mas sim a fé de Abraão sendo posta à prova e demonstrada. O texto mostra os fatos; a interpretação correta vem do restante das Escrituras.

Outro caso comum está no livro de Atos dos Apóstolos, onde os primeiros cristãos tinham tudo em comum. Alguns usam esse trecho para defender uma ideologia política, dizendo: “A igreja tem que ser comunista!”

No entanto, em Atos, a partilha era voluntária, fruto do amor cristão, e não uma imposição ideológica.

Como um filme e o comentário do diretor

Pense assim: a narrativa é como o filme. O texto didático é o comentário do diretor, explicando o que tudo aquilo realmente significa.

Sem essa explicação, você pode achar que o vilão é o herói... ou que o final feliz foi uma tragédia.

É por isso que Pedro, em 1 Pedro 2, não apenas relata que Jesus morreu. Ele interpreta o fato, afirmando:

“Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro...” (1 Pedro 2:24)

Ou seja, ele não deixa a morte de Jesus solta como um dado histórico — ele explica seu significado redentor.

Nem tudo é modelo para ser seguido

Considere: Jesus foi circuncidado. Isso significa que todo cristão hoje deve se circuncidar? Claro que não. Ele viveu sob a antiga aliança, e nós vivemos na nova. O fato de algo ter acontecido não o torna automaticamente um mandamento.

A regra de ouro para interpretar corretamente

A pergunta não deve ser apenas:
“Isso está na Bíblia?”

Mas sim:
“Deus aprovou isso? Deus ensinou isso?”

Se sim, siga.
Se não, pare e interprete à luz de toda a Escritura.